domingo, 22 de maio de 2011

O Começo

Nos levaram para a capital do país. Lá veríamos a concretização de um projeto que se iniciou durante o império e foi concretizado por Juscelino Kubistchek faz 60 anos. Projeto esse de transferência da capital do litoral para o interior, da construção de um novo Brasil cheio de oportunidades, mas ainda que fosse capaz de conciliar as exigências necessárias para uma capital de uma nação.
            Teria todas as idealizações e projetos de Lúcio Costa dado certo? As superquadras atenderiam á estrutura imposta pela superquadra modelo? Elas facilitam a integração dos moradores ou a dificulta? A praça dos três poderes representa o poder do país inteiro? Porque é conhecida como cidade fantasma? Como vivem os habitantes de Brasília, como é a vida da população? A forma planejada consegue mudar a vida delas, e suas funções? As cidades satélites são aquilo que a mídia nos apresenta ou pode existir uma organização na comunidade que é exemplo de superação e força de vontade? Fomos á capital, e respondemos á todas essas perguntas.

Início no império, final no governo de JK


Desde a época do Brasil Colônia, já se pensava em construir uma nova capital. Surgiram, então, as primeiras vozes a defender a interiorização do país. Uma nova capital, no interior do Brasil, teria muito mais segurança longe do litoral e dos ataques de canhões das naus inimigas. Essa nova capital seria Brasília. A fundação de Brasília foi em 21 de abril de 1960. A década de 1960 foi uma época em que não só a capital do Brasil se modernizava e passava para um patamar de cidade planejada e organizada para responder ás necessidades da administração política do país, a humanidade também dava um grande passo, assim como relatou Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na lua: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade.”
Segundo o plano de seus criadores, quem construiu Brasília não deveria permanecer nela. Na cidade modernista, funcional, meramente administrativa não havia lugar para os operários (pois representavam o Brasil atrasado).  Esses operários vinham de todas as regiões do Brasil, principalmente do Nordeste. Quem elaborou o plano de construção da cidade foi o urbanista Lucio Costa. Oscar Niemeyer foi o responsável pelos projetos dos edifícios de Brasília. Quem estava na presidência era Juscelino Kubitschek.
museu em homenagem à Juscelino Kubitschek
A construção da cidade de Brasília representa de uma forma geral a concretização do momento ideológico por qual passava o país, aliada a estratégias políticas e econômicas criadas pelo governo brasileiro. Pode-se dizer que um dos maiores ícones no cenário nacional foi o presidente Juscelino Kubistchek, que sempre teve um pensamento muito fixa: modernizar o Brasil. Essa foi a ideia mãe do projeto de Brasília. Baseado nisso, tinha como objetivo criar uma cidade que representasse esse ideal, uma cidade que desse uma nova cara ao país. Do ponto de vista politico, foram levados em conta questões como defesa estratégica, porque o Rio de Janeiro se situava no litoral, podendo ser facilmente atingido por ataques marítimos. Já do ponto de vista econômico, o governo de Juscelino idealizou uma coesão territorial, incluindo o Centro-Oeste na economia do pais. E do ponto de vista social muito se falou em criação de uma cultura nacional, além de uma restauração completa da cidade, criando as superquadras, que permitem seus habitantes poder dispor de uma infraestrutura básica sem sair de sua superquadra.

vista superior do prédio legislativo

Entrevistas

Entrevista com Larissa:

Segundo Entrevistado:
·         DADOS GERAIS
Nome: Gabriel Erivaldo   
Idade: idoso
Local de nascimento: Ceará (veio para Brasília em 1962 para trabalhar)
Local em que reside: Planaltina Distrito Federal
Profissão: aposentado, mas trabalhou como agente da administração pública
Renda Aproximada: “quando trabalhava eu não sei, mas agora estou com R$ 2.400,00 e pouco”

·         A VIDA EM BRASÍLIA
Do ponto de vista da infraestrutura, existe diferença entre as cidades satélites? Quais?
R: “Tem diferença, lá só mora pobre, aqui (Plano Piloto) é barra pesada”.
A maioria dos moradores das cidades satélites trabalha próximo de suas residências ou tem que trabalhar no Plano Piloto? Por quê?
R: “Trabalha aqui no Plano, lá é difícil. Lá alguns trabalha em lojas, a moça, um rapaz, tal, mas a maioria aqui. E os ladrãozinho tão ali ó, os ladrãozinho tão ali no congresso”.
A cidade em que você mora oferece opções de lazer e acesso à cultura, como cinema, teatro, parques, etc.?
R: “Lazer? Tem, tem quadra pra quem joga, pra quem anda de patins essas coisa, futebol. Só não tem cinema, tem shopping tudo, mas não tem cinema”.
De maneira geral, quais os principais problemas das cidades satélites?
R: “Ah lá tem muito, asfalta esburacado, o administrador não cuida de nós, é...tem vários”.
Qual a sua visão sobre a desigualdade dos moradores das cidades satélites em relação aos moradores do Plano Piloto, a desigualdade é muita?
R: “Diferença? Tem, e é grande. Eles mesmo quer separar sabe? Nós do centro de Brasília. Uma cidade dos pobre sabe? Eles quer separar a gente da cidade satélite do Plano Piloto”.
No local onde você reside há bastante interação entre os moradores? De que tipo?
R: “Lá na minha rua todos são do bem, tanto eu com eles e eles comigo sabe? Não sei os nome de nenhum, mas nós respeita o outro”.
O senhor gosta de morar lá?
R: “Eu gosto, eu to lá desde 69, eu vim da invasão...”.
O senhor prefere morar lá? Ou o senhor preferiria morar aqui? Qual é um ponto positivo de morar lá?
R: “Lá... lá come carne de segunda, aqui é filet mignon (risos). Lá é melhor, aqui é caro”.

centro comercial

Projeto

O projeto de Brasília foi constituído pelo plano piloto que foi feito por Lúcio Costa e os projetos de arquitetura feitos por Oscar Niemeyer. Ambos criaram a cidade projetada de Brasília.

Lúcio Costa teve seu projeto escolhido como plano piloto da cidade, onde há o encontro de dois eixos. Entre os "ingredientes" da concepção urbanística de Brasília, destaca as lembranças dos gramados ingleses de sua infância, das autoestradas americanas e dos altiplanos da China.  Planejou uma Brasília moderna, voltada para o futuro,Ele eliminou cruzamentos para que o tráfego dos automóveis fluísse mais livremente, concebeu os prédios residenciais com gabarito uniforme e construídos sobre colunas para não impedir a circulação de pessoas. Uma cidade rodoviária com amplas avenidas e vasto horizonte, valorizando o paisagismo e os jardins. No eixo norte-sul a função era ‘’circulatório-tronco’’, com pistas centrais de alta velocidade. Pistas laterais seriam feitas para evitar o transito que conduz diretamente ao setor residencial. O eixo leste-oeste, denominado "monumental", recebeu o centro administrativo, o setor cultural, o setor administrativo municipal, o centro comercial e de diversões. Os poderes, legislativo, executivo e judiciário, formam a triangular Praça dos Três Poderes.
prédio do poder executivo

prédio do poder judiciário

prédio do poder legislativo
Oscar Niemeyer, responsável pelos projetos dos edifícios públicos da capital teve de planejar uma série de edifícios em poucos meses para configurá-la. Os que mais se destacam são a residência do Presidente (Palácio da Alvorada), o Edifício do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), a Catedral de Brasília, os prédios dos ministérios, a sede do governo (Palácio do Planalto) além de prédios residenciais e comerciais.

catedral construída por Oscar Niemeyer

                                               Plano Piloto de Brasília

‘’Toda capital tem que ter uma praça aonde o povo chega e se espanta. (…) Será um grande monumento em triângulo para mostrar o progresso de nosso país. É para causar perplexidade em quem vê. ’’ – Oscar Niemeyer

Sempre em Desenvolvimento

Dado de 2010: 2 562 963 habitantes.
PIB: R$80.517,00 bilhões
PIB per capita: R$37.600,00

  Desde sua fundação Brasília teve um grande crescimento a partir dos candangos, pessoas que se mudaram para a cidade para ajudar em sua construção. Ou seja, sua população começou a se tornar a junção de pessoas de vários cantos do país.

vista panorâmica de Brasília, tirada da torre
                                   
  Porém no plano piloto, aqueles que projetaram a cidade, pensaram que a cidade poderia ser formada apenas por cidadãos da alta sociedade, e se esqueceram daqueles que trabalhariam para os próprios cidadãos de uma classe mais alta, que consequentemente possuiriam uma renda mais baixa.
Assim se formaram as cidades satélites, assim são chamadas as periferias do Distrito Federal. Que se localizam em volta do plano piloto, crescendo irregularmente, mais e mais, a cada dia. Se as compararmos com Brasília, em relação á habitantes, são muito maiores.
foto tirada da praça dos três poderes

Cidades Satélites


As cidades satélites de Brasília são a periferia de São Paulo. De acordo com o plano piloto de Lúcio Costa, as cidades satélites são uma designação usada para se referir a centros urbanos surgidos nos subúrbios de uma grande cidade, tipicamente para servir de moradia aos trabalhadores.  Originalmente, foram planejadas para serem núcleos urbanos e para funcionar como cidade-dormitório. Portanto, elas geralmente não têm indústrias e contam somente com serviços básicos de educação, saúde, comércio e lazer.
Assim, o centro da grande cidade ficará destinado ao comércio, onde os terrenos são mais caros, e a periferia para a habitação. Com a expansão, estes núcleos urbanos periféricos vão constituindo autênticas cidades, pouquíssimas industrializadas e com comércio muito básico.
Encontramos cidades satélites com o mesmo oferecimento de lazer que é oferecido no Plano Piloto, porém, não são iguais. Com base nos entrevistados durante o nosso trabalho de campo, quando comparamos o Plano Piloto com as cidades satélites encontramos uma grande diferença não só social, mas como também estrutural. O privilegio é sempre para o Plano, não apenas como as áreas de lazer, mas como condições de vida, possibilidades de emprego, por isso alguns chamam a cidade satélite como “cidade dormitório” já que muitos moradores das próprias passam o dia trabalhando no Plano Piloto e somente voltam para dormir.
vista aéra da Ceilândia Sul

vista aéria da Taguatinga Norte

Mudanças Inesperadas

               A Brasília idealizada deveria ser um lugar onde ocorre a interação entre as pessoas através dos meios em que Lúcio Costa e Oscar Niemeyer proporcionaram para os moradores. As superquadras deveriam possuir pessoas de diversos níveis sociais, onde todos frequentassem a mesma escola, a mesma igreja, ou seja, os mesmos lugares, independente de qualquer coisa, sem preconceito. As trajetórias levam para um único lugar, fazendo com que todos da cidade sejam obrigados a se encontrar no mesmo, e assim facilitando a vida social. 
igreja da superquadra modelo

prédeio de moradia na superquadra modelo

               Na Brasília real, apesar de ter os facilitadores que foram feitos por Lúcio e Oscar, a relação entre as pessoas dependia das mesmas principalmente. As superquadras apenas tinham pessoas de classe social mais alta, e seus filhos estudavam em escolas particulares,que não se localizavam nas superquadras onde era o proposito. Apenas a superquadra modelo realmente funcionou com os ideais que foram proporcionados pelos arquitetas, e mesmo assim ainda muito modificada.
escola Parque na superquadra modelo

entrada da escola Parque na superquadra modelo

                E surgiu a partir daí as cidades satélites ao redor da cidade de Brasilia para a parte da população de menor renda poder ter uma moradia, pois não havia mais espaço no plano piloto. Tudo então se resultou bem distante do que pretendiam, literalmente.

Construindo um Sonho


Brasília representava o sonho de criar uma cidade planejada, para que pudesse atender ás necessidades de sua população, lhes fornecendo uma boa qualidade de vida. Além de representar o país como todo, tendo a responsabilidade de capital de uma nação e, portanto a necessidade de ser uma cidade exemplar.
                Para realizar o sonho de construir essa utopia, trabalhadores do Brasil inteiro foram até a futura capital do país para ergue-la. Porém, foram esses trabalhadores que ergueram a cidade que destruíram o modelo de capital e cidade ideal para moradia já que inevitavelmente cada vez mais esses trabalhadores eram excluídos do modelo de vida característico do plano piloto que era destinado unicamente a elite do país e sofriam com a precariedade dos serviços oferecidos a eles, no lugar em que foram obrigados a morar já que no projeto modernista de Brasília não existia espaço para eles, deviam morar nas periferias, nas cidades satélites.
                Deslocados para a periferia, essas populações buscaram recriar ali, nesses lugares, as relações socioculturais e a luta diária pela sobrevivência.
                                                    uma das áreas de lazer da Ceilândia

                A impressão que se tem quando se sai de Brasília e vai para uma cidade satélite é de sair de uma maquete para então entrar de volta no mundo real. As cidades satélites se desenvolveram individualmente e independente do plano piloto. Apesar de ainda possuir o padrão de cidade dormitório para aqueles que trabalham no plano piloto, esse cenário esta mudando e pequenos comércios estão surgindo e outros grandes também, proporcionando oportunidades de trabalho na própria cidade satélite, sem ser necessária a locomoção para o plano piloto. As cidades satélites estão começando a mudar o cenário marcante da época da construção de Brasília, com violência e pobreza marcantes, e os habitantes gostam de viver onde vivem, em um local acolhedor e com menos “frescuras” e que da espaço para projetos de incentivo e desenvolvimento como a CUFA. O mais importante é que não existe mais uma dependência direta das cidades satélites com a capital, e cada vez mais elas deixam de ser apenas cidade dormitório e evoluem cada vez mais no cenário de desenvolvimento social e econômico.

                                                   CUFA (A Central Única das Favelas)

CONCLUSAO

Textos e mais textos lidos na preparação para o trabalho de campo. Todos contavam a história da capital do país. Contavam para gente uma história de uma cidade que estava bem longe da nossa realidade. Era difícil não relacionar o congresso diretamente ao CQC e muito menos imaginar o que seria estar em uma cidade planejada, sem ter casas e comércios próximos, pessoas andando nas ruas lotadas, sem ter aquela confusão que estamos acostumadas.
Chegar em Brasília pela primeira vez representou um choque estrutural tão grande que parecia que tínhamos saído do Brasil. A estrutura da cidade nos faz sentir dentro de uma maquete. As avenidas centrais são largas e o acesso delas se limita aos carros. Pedestres são raramente vistos ali por perto a não ser que se adentre á praça dos três poderes.
Quando você esta dentro da praça dos três poderes você se sente no centro, no coração do país. Tudo que modifica sua vida tanto para o bem quanto para o mal, tudo que constrói seu perfil de cidadão brasileiro vem dali. Ali você é governado, julgado e representado, e se feita uma comparação de estruturas o congresso e o senado possuem estrutura muito maior que o supremo tribunal federal e o palácio do planalto, portanto, a estrutura do congresso e do senado traduz uma importância relativamente na representação da voz de cada cidadão brasileiro. Tudo em Brasília é estruturalmente pensado. Cada construção tem um pensamento lógico por trás, tudo foi pensado para que a capital do país fosse uma cidade modelo para o resto, para que fornecesse aos seus habitantes toda infra-estrutura necessária para o bem estar e a integração de todos, sem elementos que favorecessem a distinção social e a desigualdade. Mas seria essa mudança na forma capaz de mudar a função que os habitantes de Brasília ligassem á ela? A forma é capaz de mudar o modelo de vida já imposto e “ensinado” ao cidadão? Algumas estruturas de Brasília tentaram mudar a tradição dos hábitos do ser social, e por isso, muito do que planejaram não se concretizou efetivamente. Hoje vemos que as escolas classe e parque das superquadras não são capazes de gerar integração entre as classes sociais pois quem tem condições de morar na superquadra, tem condições de colocar o filho em uma escola particular. O comércio que existe na superquadra não vai se limitar á venda apenas para seus habitantes, e vai ser virado para rua para divulgar seu comércio e atrair cada vez mais consumidores. Isso não é novidade para ninguém, só é novidade uma cidade planejada tentar acabar com esse costume, com essa forma padronizada pela sociedade a séculos.
Quando saímos do plano piloto e entramos na cidade satélite, parecia que tínhamos voltado ao mundo real. Brasília da sim a impressão de ser uma cidade fantasma, raramente se vê pessoas andando na rua e você precisa estar no setor certo, na hora certa para se socializar. E, ao entrar na cidade satélite sentimos uma atmosfera muito mais acolhedora, claro que com seus problemas sociais, mas é uma atmosfera de desenvolvimento e superação e local de organizações exemplares como a CUFA.
Ceilândia sempre foi conhecida pela sua violência, mas a única violência relacionada á ela foi o preconceito que a mídia impôs sobre sua imagem. O chefe da CUFA é um mestre e ele lidera uma organização que tem o objetivo de encaixar a voz da comunidade de ceilândia em um patamar igual aquele do plano piloto. Quer acabar com a violência imposta sobre a imagem de Ceilândia.
Brasília é a tradução da tentativa de arquitetos e governantes de criar uma utopia de cidade com base em um projeto modernista e lógico. Onde em cada estrutura do poder você descobre uma lógica por trás. É uma cidade destinada aos três poderes e nem o poder de Deus é representado de uma maneira maior, a catedral nacional não se compara a outras catededrais. Os arquitetos de Brasília tentaram de todas as maneiras alterar a forma da cidade para alterar a vida do cidadão, quizeram construir em cinco anos uma estrutura capaz de acabar com tradições milenares da vida do homem.